24 de janeiro de 2008

5 sábios numa noite de copos

Vamos rir
Ou simplesmente desistir
Deixar de estar alerta
Pois a morte espreita certa

Vamos partir
Ou simplesmente fugir
Fugir para terra aberta
Pois a dor devém incerta

E eu espero sempre amor

Ai cor,
Ai dor,
Não sei escrever melhor

Nem pensar, nem pisar
Nem sentir no teu olhar
Vale a pena esperar
Vale a pena esperar

Ou é tudo amargurar?

22 de janeiro de 2008

O erro de mim

De que prodígio funesto
És feito assim
Por te adorar tanto
Ó erro de mim?

Por que plano imenso
Perscrutas o jardim
Deixando que as ervas daninhas
Me infestem ruins ?

Respondes calado
Como os céus que vi
Abrirem-se-te alados
No dia em que parti

Escutas suave
Espiando a dor
Que é teres outro eu
E eu, outro amor

Mas explica como? Vá!
Pudera ser assim ?
A verdade no peito
Tão falsa e vil

Não sou eu liberdade?
O sonho gentio?
Explica como,
Vá!

De que prodígio funesto
És feito assim
Por te adorar tanto,
Ó erro de mim.

19 de janeiro de 2008

Felix Adler disse


A. Age como um membro da matriz ética (o universo espiritual infinito).

B. Age de modo tornares-te único (a individualização completa - o acto mais individualizado de entre todos os actos, é o mais ético).

C. Age de modo a invocar no outro a qualidade distintiva e única que lhe é característica enquanto teu companheiro na totalidade infinita.

Artista no Círculo: Felix Adler (1851–1933), (The Ethical Manifold)


18 de janeiro de 2008

Atraso

Estar tão farto de tanto atraso
Mental, circular, outro
Cada um pensa o que lhe apetece
Grosseiro, desrespeitoso, apressado

Nada gera, nada agradece
Todos filhos das sombras
A quem o sol nem aquece
Nem a tumba adormece
Nem o vento esmorece

Já não quero ser humano
Hominídio povoado
Germe da selva, urbano

Quero ser um bocado de trapo
De outra espécie, malfadado
Noutro tempo, noutra frente

Abortem-me, como à missão
Por ver tanta estupidez
Tanto gigante anão.

17 de janeiro de 2008

Coisas simples, coisas boas

Não percamos a esperança
Camaradas...

Coisas simples
Coisas boas

Em nós a mudança
Inerte, não tarda

Mesmo quando
Supuséramos
Definhar
Na mais ampla desgraça

Coisas simples
Coisas boas
Ver,
Olhar como criança

Esperança
Dos cegos olhos se escapa
Todo o asco purifica
Toda a sombra arrebata

Coisas simples
Coisas boas
Não percamos a esperança
Camaradas

Cabeça erguida
Levantada
Coisas simples
Coisas boas

No corpo a dor
No pé, a estrada
Esperança ténue
Nublada

Como um céu de azul sereno
Que a brisa tarda, extraviada

16 de janeiro de 2008

Saber esquecer

É preciso parar
Preciso parar
Com esta loucura elemental

Com este tom de sobreaviso
Como se o meu cérebro estivesse em perigo
Inumano, irreal

Explodindo de vazio, mal
Encontro ainda outro livro
Outro vídeo, outro sal

Para salgar o tédio seco
Com que me visto
Eventual

Parar de comprar livros
Sobre o que nunca dominarei
Nem lerei, nem saberei
A não ser esquecer

Saber esquecer
Nisso sou um ás
Eu sei
Eu ...
Eh
E
Eh

Nada!

15 de janeiro de 2008

Ainda não cacei o meu mamute

Pega na tua lança
Pega no alaúde
Vamos no vôo da garça
Caçar o meu mamute

O meu mamute desliza
Como pés de uma criança
Ao longe, vaga, na névoa
Em gélida, colossa, mudança

Qual pessoa considerada
Reles, querida, infrequentada
Espeta-lhe com força a lança
Na minha pele ensaguentada

Procuremos com certeza
No ventre da chuva, irmão
Onde o meu mamute descansa
Onde repousa a minha mão

Tenho de caçar o meu mamute
Antes que se desfaça a estrada
Antes que a tribo, turba
Me exija a carne em falta.




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Pois tudo o que é ilusório
Como as vestes que a alma não tem
Não fica, é futuro impróprio
Mero instante que à forma devém
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